Em 2018, entrou em vigor a norma que introduziu especificações que visavam a harmonização da identificação dos combustíveis a nível europeu. Nasceram assim os símbolos B7, B10, B15, E5 e E10, que além de começarem a aparecer nas mangueiras dos pontos de abastecimento de todos os Estados membros da União Europeia, foram também implementados como identificadores standard no tampão de abastecimento dos veículos produzidos posteriormente.
A alteração visava informar os consumidores no processo de abastecimento dos seus veículos em toda a Europa, permitindo assim clarificar a composição dos combustíveis e tornar mais óbvia a sua distinção. Se a diferença entre a gasolina e o gasóleo se evidenciaram pelas e letras "B" e "E", respetivamente, a quantidade (máxima) de biocombustível incorporado começou a também a ser evidenciado no número que as sucediam. Isto é, o gasóleo identificado como "B7" pode conter até 7% de biodiesel e gasolina etiquetada como "E5" pode conter até 5% de bioetanol.
Sabemos que é urgente a promoção de formas de energia mais sustentáveis no setor dos transportes. Por isso, além da meta já estabelecida para incorporação de bioenergia nos combustíveis fósseis, em 2021, Portugal estabeleceu uma meta mínima para a incorporação de biocombustíveis produzidos a partir de resíduos e de outras matérias-primas avançadas no produto final. Isto demonstra que, não só a nível internacional como também a nível nacional, aumentou o reconhecimento do contributo dos biocombustíveis de resíduos e outros avançados para a redução de emissões nos transportes, visto que são uma das alternativas mais e para a transição energética deste setor.
Ainda mais, a substituição direta de combustíveis fósseis por biocombustíveis líquidos de resíduos e outros avançados significa uma redução de emissões de gases de efeito de estufa de, pelo menos, 83% em relação ao gasóleo e à gasolina, de 80% comparativamente ao GPL e de 67% face ao elétrico convencional. Além disso, impulsionam a melhoria da gestão de resíduos, a promoção da economia circular, uma vez que nos força a olhar para os resíduos como matéria-prima valorizável, e não exigem a aquisição de novos veículos, ou de novas infraestruturas, sendo incorporados nos combustíveis que já utilizamos, distribuídos através de infraestruturas existentes (oleodutos, tanques, mangueiras), disponíveis nos postos de abastecimento que já utilizamos e movendo os veículos que já temos. São, por isso, a forma mais imediata de qualquer condutor se tornar mais sustentável.
Alguns países recorrem a misturas mais ricas, ou seja, com uma maior taxa de biocombustíveis incorporados e a própria União Europeia discute que o valor mínimo exigido possa passar de 7% para 10%. Esta diferença parece pouco relevante, mas é fácil de compreender o impacto que teria o aumento da incorporação desta energia renovável no setor dos transportes, o quarto mais poluente na Europa.
As expectativas são grandes quanto à definição em Portugal de metas mais altas e devemos seguir exemplos de países vizinhos, como Países Baixos, Dinamarca, França, Áustria e Finlândia, que contam já com incorporações bastantes superiores, como um B15, ou até B30. Para isso, são precisas novas metas e caminhos que Portugal deve percorrer, de forma a descarbonizar o setor dos transportes e assim contribuir para o processo de transição energética. Um dia, também encontraremos B30, ou até misturas mais ricas, nos postos de abastecimento nacionais.