4/7/2022

Dia Mundial da Água: a importância da recolha e reciclagem de óleos alimentares usados na preservação dos recursos hídricos

No Dia Mundial da Água, falámos com os associados da Associação de Bioenergia Avançada que se dedicam a recolher e a promover a recolha de óleos alimentares usados.

O seu conhecimento e a visão que têm sobre a relevância da correta gestão de resíduos tornam a EcoMovimento, a EGI, a Reciclimpa e a Resiway figuras incontornáveis quando se trata de compreender a relevância da reciclagem e da economia circular na minimização de riscos ambientais.

 

De que forma o vosso trabalho, ao promover a valorização dos óleos alimentares usados, contribui para a preservação dos recursos hídricos?

Hugo Rocha, EcoMovimento, “ao recolhermos os óleos alimentares usados (OAU), que todos os dias se utilizam nas cozinhas domésticas e no setor Horeca, estamos a evitar que estes cheguem às Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). Sabemos que os OAU e todo o tipo de gorduras são um problema para as ETAR e, por isso, ao criarmos uma barreira entre o consumidor, as indústrias e estas estações, estamos a evitar a contaminação dos recursos hídricos e a facilitar o processo de tratamento das águas, quando este é possível.

Pelo facto de a purificação das águas residuais que chegam às ETAR nem sempre estar garantida, existe a possibilidade de uma parte das gorduras e óleos chegarem aos rios e aos oceanos e interferirem naquele que é bom funcionamento dos ecossistemas aquáticos. Por isso, o trabalho que fazemos na EcoMovimento, de prevenção e de proteção, é a melhor forma de assegurar a manutenção da qualidade da água.

Nos últimos cinco anos recolhemos, no setor doméstico e Horeca, cerca de 3309 toneladas, ou seja, cerca de 3 milhões e 600 mil litros, de óleos alimentares usados. Se pensarmos que um litro de OAU pode poluir até 1 milhão de litros de água, consegue-se facilmente compreender a importância da gestão correta dos resíduos.”

 

Sandra Vidrago, EGI, “desde 2008 que trabalhamos para incentivar a definição de políticas orientadas no sentido de uma clara e adequada gestão dos óleos e gorduras alimentares usados. Fazemo-lo através da criação de uma rede de oleões que se destinam à recolha de OAU, mas, também, através de projetos de promoção das boas práticas junto das escolas e dos municípios, com o objetivo de educar a população para o impacto ambiental destes resíduos.

Destes projetos decorrem consequências muito positivas a nível económico e ambiental. Começando pelas ETAR, que observam uma redução de custos com o tratamento associado às óleos e gorduras que chegam no afluente e uma diminuição dos problemas associados a entupimentos e degradação de tubagens. Além destes benefícios, também a criação de postos de trabalhos, sendo que se a recolha fosse suficientemente produtiva e uma central de tratamento construída, tal poderia gerar mais postos de trabalho; a diminuição das quantidades de resíduos biodegradáveis depositados em aterro, e transformação de um resíduo num recurso. Por fim, tudo isto se traduz num aumento da qualidade de vida dos cidadãos, devido à redução do impacto ambiental e à utilização de biocombustível e consequente diminuição das emissões poluentes associadas ao sector dos transportes e num contributo, para a estratégia europeia de fomento do uso de biocombustíveis e diversificação das fontes de energia utilizadas.

Só nos últimos 3 anos resgatámos, através da recolha seletiva municipal, ou seja recolha no setor municipal, 850 toneladas de OAU.”

 

Fernando Jerónimo, Reciclimpa, “o trabalho da Reciclimpa impacta positivamente o ambiente de diferentes formas. Além dos benefícios proporcionados pela recolha de óleos alimentares usados, ao promover a filtragem dos óleos alimentares em utilização estamos a prolongar avida dos óleos, a reduzir a quantidade consumida, e, assim, a poupar recursos hídricos no sentido em que menos produção é igual a menos cultivo e, consequentemente, à utilização de menos água nas regas. Em segundo lugar, através da limpeza das fritadeiras e dos filtros de exaustão, evitam-se as acumulações de gordura nos esgotos e canalizações que representam uma ameaça para os indivíduos e para a gestão correta de resíduos.

Ao encaminhar corretamente todos os resíduos que resultam destas limpezas, estamos também a evitar que estes cheguem a destinos de eliminação, que colocam um ponto final no seu ciclo de vida, ao invés de os valorizarem, e que alcancem os cursos de água subterrâneos.”

 

Telmo Adrego, Resiway, “ao oferecer ao mercado uma solução de encaminhamento para valorização dos óleos alimentares usados, a Resiway estimula a que, quer nos estabelecimento de restauração, quer nas nossas casas, se possa intensificar a separação e encaminhamento para valorização deste fluxo de resíduo, desencorajando o ato de, simplesmente, o verter pelo esgoto juntamente com as águas de lavagens, o que, a acontecer, origina a contaminação destas águas, assim como daquelas às quais estas se irão juntar, bem como a destruição das canalizações dos sistemas de saneamento .

Além dos óleos alimentares usados, a Resiway constitui-se ainda destino de encaminhamento para valorização de diversos outros fluxos de resíduos líquidos contaminados com óleos e gorduras (gorduras do desengorduramento das águas residuais industriais e urbanas, gorduras retidas nos separadores de gorduras dos estabelecimentos da restauração, efluentes de lavagens e limpezas industriais contaminados com óleos e gorduras, entre outras).

Deste modo, Resiway incentiva à intensificação da separação e recolha seletiva destes resíduos, logo no momento em que os mesmos são gerados ou logo nas primeiras etapas do seu processo de tratamento, evitando deste modo que i) possam contaminar com óleos e gorduras volumes de efluente muito maiores e ii) reduzir deste modo o custo do tratamento dos efluentes residuais, pois quão mais prematuramente e eficazmente forem removidas as frações de óleos e gorduras, menor o custo das etapas seguintes desse mesmo processo de tratamento.”

 

De que forma percecionam a importância do seu trabalho para a preservação de água em Portugal?

Hugo Rocha, EcoMovimento, “pelo facto de estarmos a recolher óleos alimentares usados estamos a contribuir diretamente para a preservação da água em Portugal. Paralelamente, fazemos ações de sensibilização, nas quais alertamos para a importância da reciclagem dos OAU pelo contributo que representa na preservação dos recursos hídricos.

O trabalho da EcoMovimento, e dos outros operadores que prestam um serviço idêntico, é fundamental para a manutenção da qualidade da água em Portugal.

Para terminar, acredito que os municípios e as entidades ligadas à reciclagem e à preservação do ambiente têm um papel fundamental na sensibilização. A sociedade deve ser informada pela via do benefício que a recolha e reciclagem dos óleos alimentares usados traria para a vida dos ecossistemas e para o ambiente no geral, na medida em que este resíduo pode ser transformado em matéria-prima para a produção de biocombustíveis que contribuem para a descarbonização da mobilidade, um tema tão relevante, especialmente nos dias de hoje”

 

Sandra Vidrago, EGI, “além da recolha de óleos alimentares usados, à semelhança do que outras empresas do setor fazem, a EGI promove ações de sensibilização junto dos municípios e das escolas, nas quais procuramos explicar o perigo que as gorduras representam para o meio ambiente.

Há uns anos, pela altura do Natal, numa parceria com diferentes serviços municipalizados de águas e saneamento, incluímos uma nota na fatura da água que dizia “Neste Natal, frite as rabanadas e coloque o óleo de fritar no oleão”. Acreditamos que este tipo de ações ajuda a sensibilizar a população para pequenas ações e gestos para os quais não estão alerta no dia-a-dia, mas que podem fazer toda a diferença para o meio ambiente”.

 

Fernando Jerónimo, Reciclimpa, “a Reciclimpa trouxe para Portugal uma inovação recente no mercado internacional que é, no fundo, um serviço de limpeza de condutas e filtros de exaustão através de uma tecnologia, colocada no interior das HOTTES, que utiliza raios UV e produz ozono, fragmenta as gorduras e purifica o ar para que se eliminem vírus e bactérias e para que não seja necessário desperdiçar água ou poluí-la com produtos químicos ao fazer as limpezas regulares habituais.

Por outro lado, a Reciclimpa, com recurso a um separador de gorduras vanguardista, permite aos seus clientes e parceiros separar, na lavagem diária das loiças dos restaurantes, todos os alimentos e gorduras para que para o esgoto vá apenas água limpa, que não incorre no risco de poluir as águas que chegam às ETAR. Se pensarmos na escala do setor Horeca, se em cada prato lavado estiver um grama de gordura, no final da lavagem temos muitos litros de água poluída a carecer de tratamento”.

 

Telmo Adrego,Resiway, “em função do referido nos pontos anteriores, cremos naturalmente estar a desempenhar um papel importante na preservação da água bem como dos sistemas de saneamento. Contudo, queremos reforçar ainda esse papel essencialmente através i) do aumento dos volumes e fluxos de resíduos líquidos contaminados com óleos e gorduras dos quais nos podemos constituir destino para tratamento, e ii) do apoio a uma maior eficácia e eficiência dos processos de desengorduramento das efluentes residuais industriais e urbanos.

Convirá termos presente que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm ao dia de hoje acesso a água potável, estando esta problemática relacionada a 80%das doenças e mortes nos países em desenvolvimento. Perspetiva-se que o número de pessoas privadas do acesso à água potável possa atingir os 5 biliões em2050”.

 

Na Resiway, não só se apela à prevenção da contaminação da água, mas também à sua valorização. Através do processo de separação e encaminhamento dos resíduos para unidades de valorização, a empresa consegue recuperar a água presente nos resíduos que lhes chegam. Assim, impõe-se a pergunta:

Qual a quantidade de água que a Resiway conseguiu devolver ao ambiente, em 2021 ou ao longo dos últimos anos, devido ao seu trabalho no tratamento e separação de resíduos?

Telmo Adrego, “em 2021, das cerca de 28 mil toneladas de matérias residuais que recebeu para tratamento, a Resiway contribuiu para a recuperação, através da separação e encaminhamento para unidades de valorização / tratamento para posterior devolução ao meio hídrico, de um volume muito próximo dos 15 mil m3de água. Se estas toneladas de resíduos que recebemos tivessem sido encaminhadas para destinos de eliminação, nenhum m3 da água neles contida teria sido recuperada.