À medida que o panorama energético se estende perante nós, é essencial destacar as inovações e estratégias que moldarão a transição para uma sociedade mais sustentável. Nesta entrevista com Miguel Costa, fundador e CEO da UCO Network, mergulhamos na visão e nos projetos da entidade, cuja experiência em segurança cibernética e blockchain a posicionou na vanguarda do desenvolvimento de soluções para a transição energética, assim como no papel dos biocombustíveis de resíduos, o potencial da mobilidade sustentável e as perspetivas do setor energético em Portugal e na Europa para os próximos anos.
Miguel, podemos começar com uma breve apresentação sua, do seu percurso e do seu cargo na UCO Network?
A minha experiência vem de funções-chave em segurança cibernética e blockchain com gigantes da indústria como Chainalysis, CrowdStrike e Dell SecureWorks que fundem conhecimento tecnológico com um sólido histórico de desenvolvimento de negócios. Neste momento, sou Founder & CEO da UCO Network.
Qual a estratégia da UCO Network para a transição energética? Que projetos estão a desenvolver neste âmbito?
No centro da nossa visão está o compromisso de gerar profundos benefícios ambientais, sociais e económicos. A UCO Network oferece soluções para enfrentar os desafios associados à gestão do óleo de cozinha usado (UCO), como a criação de uma aplicação de recolha que utiliza tecnologia blockchain e IoT para rastrear o óleo desde a sua origem até ao destino final, garantindo transparência e conformidade ambiental. Além disso, estabelece um mercado global on-chain, facilitando transações diretas entre compradores e vendedores, reduzindo custos e promovendo eficiência na indústria de reciclagem de óleos usados. Existe também o foco na comunidade com a iniciativa "Recycle-to-Earn", incentivando a reciclagem responsável do óleo de cozinha usado e o mapeamento de produtores de UCO para expansão da participação e das próprias redes de recolha. Através destas iniciativas, os participantes são recompensados com tokens pelas suas contribuições, promovendo um senso de responsabilidade coletiva aliando incentivos económicos com objetivos ambientais de sustentabilidade.
Na vossa visão, qual o papel dos biocombustíveis de resíduos e outros avançados na transição energética?
De forma simples, a expansão do mercado de recolha de óleo alimentar usado promove os princípios de economia circular ao facilitar a conversão de materiais recicláveis em recursos energéticos valiosos, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e simplificando as operações para empresas e residências, alinhando-se perfeitamente com o objetivo de tornar a energia limpa e acessível a todos.
Que impacto preveem que pode ter, em termos ecológicos, o aumento da incorporação destes biocombustíveis?
A expansão da indústria de biocombustíveis pode trazer impactos positivos significativos, incluindo a redução das emissões de gases de efeito estufa, a diversificação da matriz energética e o estímulo à economia circular, impulsionando também o desenvolvimento económico em áreas com menor infraestrutura.
Existe, em Portugal, indústria para um dia chegarmos a incorporações de B20, B30 com biocombustíveis produzidos em Portugal?
Segundo dados de 2020, apenas cerca de 10% dos óleos alimentares usados são corretamente recolhidos e encaminhados para reciclagem em Portugal, em comparação com a quantidade total produzida. Isso significa que a maioria, cerca de 90%, é descartada indevidamente, sendo despejada nos esgotos ou nas canalizações domésticas. Atualmente, apenas 7% da composição de todos os combustíveis em Portugal é biológica, o que significa que, para cumprir as metas da União Europeia, o país precisa importar a maior parte da matéria-prima. No entanto, se mais óleos alimentares usados fossem aproveitados, isso ajudaria a reduzir a necessidade de importações e a atingir essas metas.
Qual a visão da UCO Network para a mobilidade daqui nos próximos anos?
A UCO Network tem a missão de Mobilizar o Planeta para a Regeneração. Nós visualizamos uma fusão sinérgica entre a humanidade e tecnologia de ponta dedicada a rejuvenescer e sustentar os recursos energéticos do nosso planeta. Utilizamos tecnologia blockchain para promover transparência nas cadeias logísticas, incentivar práticas sustentáveis por meio de incentivos económicos e implementar uma abordagem de economia circular. Esta iniciativa contribui para a proteção ambiental ao reduzir resíduos e emissões de gases de efeito estufa. Além disso, promove o bem-estar social ao criar oportunidades de emprego e interação com a comunidade. No centro da nossa visão reside um compromisso em gerar benefícios ambientais, sociais e económicos profundos, forjando um caminho para um mundo restaurado, revitalizado e resiliente, incorporando a participação de indivíduos e indústrias, e redistribuindo incentivos.
Como vê o setor energético em Portugal e na Europa daqui a 10 anos?
É possível vislumbrar um setor energético em Portugal e na Europa daqui a 10 anos caracterizado por um maior ênfase em fontes de energia limpa e renovável com a participação ativa de comunidades locais e indústrias. Com o avanço da tecnologia blockchain e a implementação de iniciativas de economia circular, espera-se uma maior transparência nas cadeias de logística e incentivos para práticas sustentáveis. Além disso, a utilização de biocombustíveis e a reciclagem de resíduos orgânicos, como os óleos de cozinha usados, podem tornar-se mais comuns, contribuindo para a redução de emissões de gases de efeito estufa e para a proteção do meio ambiente.
Prevê-se também um aumento no investimento em energias renováveis, como solar e eólica, bem como em tecnologias de armazenamento de energia, visando alcançar metas mais ambiciosas de redução de carbono e tornar o setor energético mais resiliente e sustentável a longo prazo. Além disso, espera-se que essas mudanças tragam benefícios socioeconómicos, como a criação de empregos nas indústrias de energias renováveis e de reciclagem e uma maior integração da comunidade no desenvolvimento e na implementação de soluções energéticas inovadoras.
Que outros casos de sucesso gostaria de partilhar connosco?
O maior caso de sucesso a mencionar é que neste momento temos uma plataforma funcional - graças uma equipa absolutamente incrível e vários anos de desenvolvimento - composta por uma aplicação de recolha de óleo alimentar usado (UCO Collect) que estamos a trabalhar para integrar com a Agência Portuguesa do Ambiente e a Base de Dados da União Europeia! Destacamos que temos também um programa piloto aberto e gostaríamos de convidar todos os associados da ABA (e também empresas de recolha não associadas) a juntarem-se à nossa plataforma e esforços por um planeta melhor!