Nunca foi tão urgente refletirmos sobre a energia do futuro, sobretudo numa época tão marcada pela evidente dependência energética de fontes fósseis. A semana europeia da Mobilidade é o mote para explorarmos um pouco mais este tema.
O conflito no leste da Europa colocou em evidência a forte dependência energética tanto de fontes não renováveis (onde o petróleo é a figura central), como de países que importam a sua energia para diferentes setores, incluindo a mobilidade.
Com desafios acrescidos, é importante compreendermos o potencial que o mix energético representa para, por um lado, aumentar a independência energética dos países e, por outro, responder à descarbonização e sustentabilidade da energia que move o futuro.
As metas para a descarbonização da mobilidade na UE são ambiciosas, desafiando todos os países a estudar respostas imediatas e eficazes para reduzir de forma exponencial as suas emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE), com o objetivo de atingir a sua neutralidade carbónica em 2050.
Considerando que a média de utilização do parque automóvel é de cerca de 15 anos, período longo, é necessário procurar alternativas à substituição dos veículos. É fundamental que estas opções sejam neutras em CO2, de modo a contribuir de forma consistente para a meta de neutralidade carbónica em 2050, em toda a Europa.
O objetivo final, definido pela UE, seria de facto deixar de produzir e comercializar carros a combustão, mas devemos considerar e promover outras alternativas sustentáveis, já que a transição para uma mobilidade totalmente elétrica será gradual. Assim, os biocombustíveis e os e-fuels sustentáveis são uma solução viável para reduzir as emissões no setor dos transportes a curto, médio e longo prazo, garantindo a utilização da frota existente (em simultâneo).
É nesta equação que o mix energético ganha destaque, uma opção “onde se enquadram todas as soluções que permitem descarbonizar o setor dos transportes, desde a eletricidade a uma maior incorporação de biocombustíveis de resíduos e outros avançados”, explica Emanuel Proença, Presidente da ABA.
Para alcançar um bom equilíbrio de fontes de energia é importante investir na sua diversidade, desde logo integrando soluções como biocombustíveis a partir de resíduos, biometano, sintéticos ou hidrogenados, mas também explorando as opções de veículos elétricos, com baterias mais sustentáveis, e aproveitando outras fontes renováveis para a produção e transformação da energia necessária neste setor – e podendo estender todas as estas soluções à alimentação energética de casas, espaços comerciais, instalações fabris ou produção industrial.
Com estas soluções, é possível aliar a química à transição energética e abraçar combustíveis mais “verdes” para reduzir a emissão de GEE na mobilidade. Também para Ana Calhôa, Secretária-Geral da ABA, o futuro está nessa complementaridade das fontes de energia renováveis, onde “as misturas mais ricas serão uma realidade, a par dos veículos elétricos e dos movidos a hidrogénio verde”.
Importa salientar, neste sentido, que estas fontes alternativas e promotoras deste mix já existem e estão em desenvolvimento, com projetos de associados da ABA a contribuir para este crescimento.
O mix energético assume-se como a solução capaz de cumprir com sucesso as metas estabelecidas até 2030 e 2050 pela União Europeia. Deste modo, Ana Calhôa conclui que “é fundamental aproveitar e maximizar o potencial desta solução que nos poderá levar à neutralidade carbónica ainda antes do previsto”.
Ana Calhôa, Secretária-geral da ABA, refere que “as misturas mais ricas são a solução mais imediata pois é possível incorporá-los em qualquer veículo; sustentável, por serem feitos através de matérias-primas avançadas e resíduos, promovendo uma economia circular ao aproveitar resíduos que, de outro modo, seriam descartados; e inclusiva, pois está ao alcance de qualquer um”.
Para alcançar um melhor equilíbrio nas fontes de energia é essencial trabalhar em três frentes principais:
Emanuel Proença, Presidente da ABA, revela que tem sido percetível uma evolução positiva do país tanto relativamente à bioenergia avançada, como à valorização de soluções que promovam esta mistura. “Agora, é o momento de continuarmos este caminho, impulsionando medidas que contribuam para a descarbonização e a adoção de metas de energias renováveis mais ambiciosas, apostando na substituição direta de combustíveis fósseis por biocombustíveis”, diz Emanuel.
Num futuro movido com alguma incerteza, parte de cada cidadão, produtor e legislador contribuir para que o mix energético, o recurso a fontes sustentáveis e utilização de renováveis sejam cada vez mais o verdadeiro motor da mobilidade e do consumo para o futuro.