A neutralidade carbónica é uma ambição global. Por isso, os países e as empresas estão numa corrida pelo desenvolvimento de soluções e alternativas aos combustíveis fósseis e a indústria portuguesa não fica para trás.
Em Portugal, muitas destas empresas que têm hoje uma contribuição significativa para o alcance deste objetivo, começaram o seu trabalho há muitos anos, quando os termos “resíduos” e “reciclado” ainda não eram bem recebidos e nem se falava na possibilidade de produzir combustíveis e biocombustíveis a partir de matérias-primas residuais.
O seu sucesso demonstra que acertaram nas suas previsões e que o mundo precisa delas. Temos, em Portugal, a 3.ª maior produtora de biocombustíveis, a partir de matérias-primas residuais, da Europa, e uma das cinco maiores empresas de tratamento de águas contaminadas com hidrocarbonetos a nível europeu. Falamos da PRIO Bio e da Eco-Oil, mas os casos de sucesso não se ficam por aí. Também a VALPI Bus, a empresa de transportes coletivos do Grupo VALPI, através do seu projeto-piloto de utilizar B30 nos seus autocarros, tem demonstrado que é possível descarbonizar sem precisar de adquirir uma nova frota, mas vamos por partes.
A portuguesa PRIO, através da Prio Bio, que é a maior produtora nacional de biocombustíveis a partir de resíduos, vieram provar que a sua estratégia está bem alinhada com os objetivos de desenvolvimento sustentável portugueses - tanto em território terrestre, como em marítimo. Este ano, a Prio juntou-se à Carris num projeto com vista à descarbonização da mobilidade, o Beato BioBus, abastecendo oito autocarros com zero diesel, um combustível livre de petróleo, por ser produzido exclusivamente através de matérias-primas residuais, e capaz de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além disto, também a economia circular está bem presente neste projeto, já que vão ser instalados oleões para a recolha de óleos alimentares usados que, posteriormente, irão ser transformados nos biocombustíveis utilizados. Com este programa, será possível poupar cerca de 400 mil litros de gasóleo e 1 100toneladas de emissões de CO2, anualmente.
Por outro lado, o seu caminho rumo à descarbonização também já chegou aos transportes marítimos, através do lançamento do Eco Bunkers, uma linha de combustíveis verdes para navios, inovadora e pioneira na Península Ibérica, com 15% de incorporação de biodiesel. Este combustível, desenvolvido em Portugal, tem na sua base processos de reciclagem de matérias-primas residuais. O Eco Bunkers permite, desta forma, a redução de até 18% de emissões de dióxido de carbono num setor que é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera.
Também a VALPI Bus está a apostar na redução de emissões dos seus autocarros e a contribuir para um país mais sustentável, através da utilização de 30% de biocombustíveis, produzidos pela Bioport, empresa do mesmo grupo e nossa associada, no combustível consumido pela sua frota. Se dúvidas restassem quanto à eficácia e qualidade dos biocombustíveis produzidos a partir de resíduos, a empresa tem autocarros que juntos já percorreram mais de 3.000.000 km com B30 (biocombustíveis produzidos a partir de resíduos), o que equivale a reduções de ~57 toneladas de CO2, isto é o equivalente a um carro convencional movido a diesel, percorrer 150 vezes o percurso da volta a Portugal (em 2020 o percurso da volta a Portugal contabilizou cerca de 1200 Km percorridos).
Por último, mas não menos inovador, a Eco-Oil, a empresa que se sobressai na gestão de resíduos industriais perigosos e na produção de combustível 100% reciclado, o EcoGreen Power, que é aplicado na descarbonização da indústria. Este produto, que apresenta menores emissões poluentes do que qualquer outro combustível fóssil, mantendo a eficácia e sustentabilidade do negócio, evitou, só em 2020, a emissão de cerca de 3.900toneladas de gases poluentes.
Além de empresas, temos iniciativas, que, embora estejam a começar, já se prevê que sejam o futuro, como o Cascais Smart Pole by Nova SBE, que surgiu pela vontade do município de impulsionar o seu roteiro para atingir a neutralidade carbónica até 2050. Com o apoio e auxílio do cidadãos, que não precisam de ser residentes em Cascais, este inovador projeto pretende ser um local de procura por soluções que contribuam para o grande objetivo de diminuir - ou até acabar com - as emissões nefastas e cessar as alterações climáticas, a nível nacional.
O livinglab, como se designa, já tem vários projetos à vista, como é o caso da implementação de uma comunidade de energias renováveis, uma ideia pioneira que irá ser alargada a nível municipal, caso tudo corra como previsto. Outro projeto, este mais ligado à redução do impacto ambiental causado pelo consumo de água engarrafada, irá ser o lançamento da app H2Onde, que, como o nome indica, pretende ajudar os utilizadores a encontrarem pontos com água pronta a ser bebida, sem custos associados, como bebedouros ou locais que se queiram juntar ao projeto. Este projeto prevê, também, a criação de uma estratégia de recolha de óleos alimentares usados que serão aproveitados, posteriormente, para criar biocombustível (designado por biodiesel B100) pronto a ser utilizado na frota municipal de autocarros.
A nível nacional, é claro que já vários projetos estão a ser desenvolvidos para atingir a neutralidade carbónica e tornar Portugal uma referência no panorama europeu. Os associados da ABA -Associação de Bioenergia Avançada contribuem muito para este objetivo e, por isso, este é o primeiro de uma série de artigos sobre os casos de sucesso que temos em solo nacional.