6/28/2023

O futuro dos transportes pesados está na bioenergia: 3 conclusões essenciais da 1ª conferência B+ Summit em Lisboa

As metas rumo à neutralidade zero têm potenciado o desenvolvimento de diferentes soluções, o que reforça o mix de energias sustentáveis disponíveis como solução mais eficaz para o setor da mobilidade. Mas o que estão a fazer os diferentes players? Que projetos e casos de sucesso podem ser tidos como exemplo? De que forma estão a desenvolver-se opções para os veículos pesados? E como se pode acelerar a sua transição energética de forma generalizada?

A 1ª edição da conferência europeia que a ABA organizou em conjunto com as associações EBB - European Biofuels Board e EWABA - European Waste Based & Advanced Beyofuels Association contou com mais de 300 especialistas do setor, ao longo de 3 dias. O evento foi fundamental para debater, pensar e fazer avançar a descarbonização dos transportes pesados com recurso aos biocombustíveis de resíduos e outros combustíveis verdes, enquanto alternativa acessível, imediata e eficaz para os veículos pesados e de serviço.

Emanuel Proença, Presidente daABA, afirma que “Foi bom ter conseguido trazer para Portugal pensamento e conteúdo de ponta sobre como descarbonizar camiões e autocarros. Os casos de sucesso que apontam o caminho são vários, e Portugal deve orgulhar-se de ter já alguns deles. A conferência foi um sucesso – contribuiu não só para mostrar oque de melhor se faz no setor rumo à sua descarbonização, como também para discutir e avaliar os múltiplos efeitos colaterais positivos de uma economia mais produtora e consumidora de combustíveis verdes, e por isso mais circular, mais verde, com mais emprego, investimento e valor acrescentado. Criou-se uma base de entendimento e articulação entre todas as entidades e decisores europeus que têm de trabalhar em conjunto para acelerar a descarbonização do setor dos Transportes Pesados”.

 

3 conclusões essenciais

  1. A discussão é fundamental

O transporte é um dos setores com mais impacto carbónico no ambiente, sendo responsável por cerca de 20% do total de emissões de CO2 na Europa. O recurso a combustíveis fósseis para a mobilidade, sobretudo nos transportes pesados e de mercadorias, é um fator de grande pressão a nível ambiental - tanto pela exploração de recursos naturais, como pela combustão poluente para o meio.

Com oradores de referência no setor e tendo como mote a transição energética nos transportes pesados, os painéis de debate e key talks evidenciaram algumas das potenciais soluções e medidas para que a Europa possa acelerar este percurso.Entre os temas discutidos, surge com maior peso a necessidade de definir melhoro planeamento europeu na transição energética dos transportes pesados, contando com a adaptação estruturada à realidade de cada país, assim como a importância de desenhar um quadro legal sólido para apoiar as opções de escolha das empresas e transmitir maior segurança no percurso de descarbonização.

No último dia, a conferência teve um dos seus momentos altos com a apresentação doManifesto B+ do Estoril para a Descarbonização dos Transportes Pesados com recurso a combustíveis verdes, documento assinado pelas três entidades promotoras em conjunto com mais de 20 associações europeias e mais de 30empresas líderes no setor, para destacar o potencial destas energias para a economia circular, bioeconomia e independência da Europa face aos combustíveis importados.

Tal como refere Dickon Posnett, Presidente da EBB, “o Manifesto B+ cria um modelo para permitir ao setor dos transportes pesados emitir muito menos GEE, e de forma mais rápida. O vasto leque de organizações que assinou este documento mostra precisamente um compromisso sólido da indústria em encontrar soluções eficientes e eficazes em termos de custos para que a Europa possa reduzir o uso de combustíveis fósseis”.

  1. Aposta nas misturas mais ricas

Enquanto os veículos elétricos ganham expressão na mobilidade ligeira, é fundamental perceber que soluções são economicamente viáveis, acessíveis e sustentáveis do ponto de vista ambiental para os transportes pesados, que hoje geram cerca de 60% do CO2 emitido na mobilidade.

Sabendo que os biocombustíveis de resíduos podem reduzir mais de 84% as emissões poluentes na mobilidade e contribuir com a geração e absorção de 95% de Valor Acrescentado Bruto para a economia nacional, o evento colocou o seu foco na importância de continuar a investir nestas fontes enquanto contributo fundamental na transição energética.

OB+ Summit mostrou como é urgente continuar a esclarecer todos os representantes, desmistificar falsas crenças e mostrar como é possível também fazerem a sua transição, de acordo com os seus objetivos e limitações, para alcançar as metas ambiciosas e urgentes rumo à neutralidade carbónica nas próximas décadas. Conforme foi possível conhecer durante a conferência, já existem casos bem sucedidos e outros projetos-piloto em desenvolvimento, tanto a nível nacional como europeu, para alargar a produção e consumo destas energias, alguns destes encabeçados por associados da ABA.

Ewald-Marco Muenzer, Presidente da EWABA, refere ainda que “já existem em Portugal várias frotas e mais de 20estações de serviço que oferecem ao consumidor combustível B15. A experiência até ao momento tem sido excelente, com mais de 50 milhões de quilómetros percorridos e feedback positivo de todos. Têm sido feitos testes extensivos ao produto, que mostram não só que este cumpre os standards químicos específicos e é compatível com todos os veículos, como também permite reduzir o consumo de diesel até 5%”.

  1. Um desafio a longo prazo - mas urgente

A capacidade produtiva nacional está a ser utilizada em cerca de 40%, o que abre um leque de oportunidades para trabalhar, de forma mais próxima, com todos os responsáveis, operadores e decisores para aproveitar este potencial da melhor forma. Já existem casos bem sucedidos e outros projetos-piloto em desenvolvimento para alargar a produção e consumo destas energias, alguns destes encabeçados por associados da ABA, pelo que é urgente continuar a apoiar todos os representantes para reforçar o setor.

O apoio legal, a informação, as medidas e os incentivos devem ser dirigidos precisamente aos operadores em toda a cadeia de valor dos combustíveis verdes se os queremos consolidar como primeira opção na hora de abastecer os nossos veículos. Em linha com quadros regulatórios europeus, como a REDII, torna-se essencial que a transposição das medidas acompanhe a realidade de cada país, tendo em conta o seu contexto e constrangimentos para transformar adversidades em oportunidades.

  

A adesão sentida, os conhecimentos partilhados e o espírito de união entre todos os intervenientes mostram-nos que é fundamental continuar a proporcionar espaços de fórum, como o B+ Summit, para discutir o estado do setor e fomentar soluções e apoio essenciais para que, em conjunto, todos façamos parte da construção sustentável da mobilidade do futuro. Por isso mesmo, queremos continuar a promover estes espaços de debate e no próximo ano esperamos receber todos os interessados numa nova edição da conferência B+ Summit. Contamos consigo?