8/18/2022

O que nos reserva o futuro da bioenergia?

Desde a sua fundação em 2019, a ABA cresceu e hoje é composta por 15 empresas associadas. No nosso 3º aniversário, refletimos em conjunto sobre os avanços conquistados até aqui e o caminho possível a percorrer para uma mobilidade mais sustentável no futuro.

Em três anos de atuação, a ABA cresceu e hoje é composta por 15 empresas associadas que estão a trabalhar de forma ativa na descarbonização do setor da mobilidade. Através de diferentes soluções para a recolha de resíduos, tratamento das matérias, transformação em biocombustível e organização de processos de gestão, a atividade dos vários associados permite alargar o espetro de atuação da ABA e levar mais longe a missão da associação.

Os resíduos para a descarbonização mais imediata

Com metas ambiciosas para a descarbonização total do setor dos transportes na União Europeia até 2050, a bioenergia avançada assume-se como um caminho para as alcançar de forma mais rápida no futuro próximo.

Como revela Ana Calhôa, Secretária-Geral da ABA, “os biocombustíveis de resíduos e outros avançados não exigem a aquisição de novos veículos ou infraestruturas, uma vez que são incorporados nos combustíveis que já utilizamos. Tornam-se, por isso, a forma mais imediata de qualquer condutor se tornar mais sustentável”.

Na prática, a média de utilização de um veículo ronda os 15 anos, pelo que trocar todo o parque automóvel para alcançar estas metas europeias não seja a resposta mais imediata. Assim, Anabela Antunes, Diretora da fábrica da Prio, defende que com esta alternativa apresentada pelos biocombustíveis seja “possível migrar, no imediato, para uma situação de redução de emissões significativa, visto que já existem muitos veículos aptos para receber misturas mais ricas”.

Além do impacto no setor dos transportes, a valorização destes biocombustíveis torna também possível descarbonizar a produção de energia e eletricidade, defende José Manuel Ribeiro, Presidente do Conselho de Administração da LIPOR. Nesse sentido, José acredita que a Europa se mostrará “mais solidária, em particular na gestão comum dos desafios da energia”, uma ideia também defendida na PRF, que crê que a expansão do setor da bioenergia avançada criará uma Europa mais verde, “com uma maior produção de energias renováveis e uma maior independência energética”.

Numa perspetiva de valores financeiros, este crescimento do setor e cenários positivos estão também a revelar bons sinais nos mercados financeiros, onde investidores e membros executivos de empresas já estão a defender a transição energética. Com perspetivas brilhantes, na opinião de Angel Alvarez Alberdi, secretário-geral EWABA, esta poderá ser “uma década muito positiva para a indústria verde”.

A regulamentação do setor é o caminho

Existem, neste momento, algumas normas e diretrizes para os operadores no mercado dos biocombustíveis, cujo objetivo passa por promover a expansão de uma boa rede de recolha de resíduos e produção de bioenergia avançada. Em simultâneo, implementam-se algumas medidas e incentivos que beneficiam toda a cadeia de produção, com a perspetiva de valorizar os biocombustíveis e expandir o seu impacto positivo na mobilidade.

Assim, as brechas nas normas que regulam o setor operativo dos resíduos são um desafio a responder no presente e no futuro. Para Hugo Rocha, Gerente da EcoMovimento, esta regulamentação no setor “trará mais exigência aos Operadores de Gestão de Resíduos e aumentará a profissionalização do setor, e assim poderemos ter um mercado concorrencial justo, chegando a índices de reciclagem de OAU satisfatórios”. Neste sentido, utilizar o potencial que tecnologia como a Blockchain oferece para alcançar este rigor é também um caminho a explorar, como a UCO Network tem vindo a aprofundar.

Em simultâneo, é essencial destacar o contributo impactante dos biocombustíveis na melhoria do meio ambiente, já que, sem uma correta recolha e reciclagem, como a Elnomart desenvolve, estes resíduos acabariam por poluir ecossistemas, contaminar milhões de litros de água e contribuir para o desperdício. Como defende Fernando Jerónimo, Fundador da Reciclimpa, “a correta gestão do OAU ajuda a resolver inúmeros problemas ambientais e de higiene e segurança alimentar”.

Só recentemente se começou a entender como a Gestão de Resíduos deve ser integrada nas iniciativas de Agências de Energia, Câmaras Municipais ou Sistemas Multimunicipais. Como revela Sandra Vidrago, co-Fundadora da EGI, existem por isso muitas oportunidades a explorar, levando conceitos, práticas e informação ao público, com o objetivo de educar consumidores e produtores.

Torna-se cada vez mais premente compreender como a componente cultural é tão importante para a adoção e perpetuação das políticas energéticas, alerta Telmo Adrego da Resiway. Mas o cenário é otimista, já que, para o fundador, “as novas gerações são claramente mais sensíveis a este tema. Portanto, tudo isso, me leva a crer que o futuro é de profunda transformação da nossa matriz de consumo”.

O futuro está no mix energético

Nuno Correia, consultor do setor da bioenergia, defende que “o futuro do setor é um mix composto por todas as fontes de energia renováveis, porque neste momento não conseguimos produzir energia para satisfazer todas as necessidades a nível global a partir de uma só fonte”. Assim, a verdadeira sustentabilidade para o setor advém do trabalho conjunto dos diferentes produtores para responder às necessidades energéticas na mobilidade, consumo ou indústria.

Com a disponibilização de mais opções de abastecimento, “o setor energético vai estar sob pressão para procurar alternativas para a sua própria atividade, sendo que hoje já encontramos essas alternativas”, explica Nuno Matos, Diretor da Eco-Oil. Será precisamente a variedade que trará, por um lado, maior competitividade para novas opções e, por outro, mais pressão para a produção e transformação no setor energético.

Também para Ana Calhôa o futuro está nessa complementaridade das fontes de energia renováveis, onde “as misturas mais ricas serão uma realidade, a par dos veículos elétricos e dos movidos a hidrogénio verde”.

Para a Bioport, como conta Henrique Caramalho, é precisamente nestas misturas mais ricas que reside a resposta, “potenciando desde logo as reduções de emissões que o biocombustível permite e, só assim, alcançaremos a neutralidade carbónica em 2050”. Também a Galp está a desenvolver esforços neste sentido, promovendo projetos para descarbonizar a mobilidade rodoviária e aérea.

“Ainda há muito por fazer”, complementa Harmen Dekker, CEO da EBA, “e esperamos ver do lado dos gases renováveis a proeminência de dois tipos para responder tanto à transição da indústria e do setor dos transportes, como para consumo do lar”.

Pelas opções de crescimento que existem, a Secretária-Geral da Aba considera que setor da energia está efervescência e marcado pela complementaridade de soluções, onde “tanto os biocombustíveis, como as misturas mais ricas serão uma realidade, a par dos veículos elétricos e dos movidos a hidrogénio verde”.

O desafio para o futuro, segundo Sérgio Ribeiro, co-Fundador da Planetiers, “se continuamos a fazer business as usual ou se os canalizamos para transformar o mundo”. Os resultados alcançados recentemente mostram que os recursos para criar algo disruptivo estão disponíveis, contribuindo para a transformação acelerada no setor. “Está nas nossas mãos saber para onde vamos agora e acho que podemos fazer mais inovando para a sustentabilidade”.

Acreditamos que as misturas mais ricas são a solução mais imediata pois é possível incorporá-los em qualquer veículo; sustentável, por serem feitos através de matérias-primas avançadas e resíduos, promovendo uma economia circular ao aproveitar resíduos que, de outro modo, seriam descartados; e inclusiva, pois está ao alcance de qualquer um.

Assim, esta solução é capaz de cumprir com sucesso as metas estabelecidas até 2030 e 2050 pela União Europeia. Deste modo, Ana Calhôa conclui que “é fundamental aproveitar e maximizar o potencial desta solução que nos poderá levar à neutralidade carbónica ainda antes do previsto”.