Falar em neutralidade carbónica sem mencionar a relevância de um mix energético significa deixar de fora um conjunto de soluções que contribuem para alcançar as metas estabelecidas a nível nacional e europeu. Esta conjugação de soluções com o propósito de atingir um objetivo comum é a fórmula mais viável para alcançar as atuais e futuras metas de descarbonização da economia.
Numa altura em que Portugal centra a sua aposta na mobilidade elétrica e no hidrogénio verde, importa relembrar que, apesar das suas inúmeras vantagens, tanto a eletrificação como o hidrogénio verde são soluções cujos impactos na transição energética levarão algum tempo a terem impactos diretos nesta transformação.
Em primeiro lugar, importa compreender qual o contributo das energias renováveis líquidas para o cumprimento das metas nos últimos anos. Em 2019, data dos últimos dados publicados, é observável que o seu contributo foi 280 vezes superior ao das energias renováveis elétricas. Se pensarmos no que isto significa em termos de toneladas equivalentes de petróleo convertidas(Tep), os biocombustíveis representaram, nesse mesmo ano, 284 mil Tep, enquanto a eletricidade, no setor dos transportes, representou pouco mais de 1.000 Tep.
Se pensarmos no que este contributo representa em termos de emissões, percebemos que as energias renováveis líquidas evitam acima de 390 vezes mais emissões de CO2, face às reduções conseguidas com a substituição dos combustíveis fósseis por eletricidade. Esta substituição evitou ao país a emissão de quase 2.000 toneladas de CO2, enquanto os biocombustíveis (compostos por 65% de origem em resíduos e outros avançados e35% de origem convencional) evitaram cerca de 780.000 toneladas de CO2. Estas toneladas evitadas correspondem a mais de 50 mil voltas ao mundo.
Sabendo que os biocombustíveis de resíduos e outros avançados permitem reduzir significativamente as emissões de GEE e que são a solução mais “democrática” e acessível a todos, é possível compreender que o seu contributo é mais relevante do que o de qualquer outra solução, podendo ainda ser potenciado.
Em 2020, 3% dos biocombustíveis produzidos em Portugal foram biocombustíveis avançados, correspondentes a quase 10 mil m3. Isto permitiu reduzir a emissão de 25 mil toneladas de GEE. Este valor é só o início e já equivale ao significa mais do dobro do CO2 poupado pela indústria dos camiões e autocarros a gás natural, nesse mesmo ano. Isto tendo em conta que o uso de gás natural nos pesados é uma indústria com quase 20 anos de desenvolvimento em Portugal, enquanto para os biocombustíveis o ano passado pode ser considerado o ano zero da subindústria dos biocombustíveis de resíduos e outros avançados.