Em conjunto com os seus associados, a ABA lançou recentemente o seu Relatório Semestral sobre o panorama da Bioenergia Avançada em Portugal. Com o propósito de compreender como tem evoluído o setor e o que se perspetiva para o futuro da energia sustentável, o Relatório e os seus dados são um contributo para reforçar a posição de energias alternativas como resposta à descarbonização e à independência energética do país.

Mais que um quadro da Bioenergia Avançada, o Relatório contribui para informar todos os players, do gestor ao consumidor, passando pelo operador e produtor, sobre o potencial que energias como biocombustíveis de resíduos, avançados e outros verdes apresentam. Entre as principais conclusões, este estudo permitiu compreender que os biocombustíveis produzidos a partir de resíduos e o biometano continuam a ser a aposta para um futuro sustentável, revelando ainda que descarbonizar o setor dos transportes continua a ser o grande desafio.

OAU lideram produção

De acordo com os dados levantados para o Relatório, a produção de biocombustíveis em Portugal aumentou 9% de 2021 para 2022, e, no primeiro trimestre de 2023, as matérias-primas mais utilizadas na sua produção foram as residuais, representando mais de 85%, onde os Óleos Alimentares Usados(OAU) representam 61% e as matérias-primas avançadas 25%.

Estas são ótimas notícias tanto para a redução da pegada de carbono destas fontes de energia, como para a circularidade da economia, já que os OAU, utilizados na preparação de alimentos, são reintroduzidos como matéria-prima para geração de energia com baixo teor carbónico.

Também as matérias-primas avançadas (ou de última geração), compostas por resíduos oriundos, por exemplo, de borras de café, margarinas e molhos fora de especificação, entre outros, têm crescido como fonte para produção de biocombustíveis.

Transportes continuam a ser um desafio

Os dados mais recentes mostram como amobilidade continua a ser um dos principais responsáveis pela poluição ambiental, sobretudo pela circulação de veículos com motores de combustão - por exemplo, em abril de 2023, a maioria dos veículos pesados ainda movidos a gasóleo representavam 96% das vendas em Portugal, enquanto os elétricos representavam apenas 3%.

A adoção de misturas mais ricas em matérias sustentáveis nos biocombustíveis hoje disponibilizados é fundamental para a descarbonização dos transportes, uma vez que podem ser consumidas pelos veículos que hoje circulam sem necessidade de fazer quaisquer mudanças na frota. O acesso generalizado a estas opções deve estar na agenda do país para conseguirmos acelerar a transição energética necessária, contando com uma oferta de energias verdes ampla e diversificada para responder às necessidades de todos os consumidores - sejam eles grandes frotas ou clientes individuais.

Biometano ganha espaço na discussão

À semelhança de outros gases verdes em desenvolvimento, também o biometano - um gás renovável produzido a partir de resíduos e com menor impacto carbónico - está a ganhar espaço na discussão e a enriquecer o leque de opções para levar energias sustentáveis a todo o país.

Os biocombustíveis e os combustíveis verdes constituem uma alternativa economicamente acessível e de fácil implementação face aos combustíveis tradicionais, uma vez que tiram partido das infraestruturas já existentes e compatíveis com estas fontes. O mesmo se passa com o biometano, que pode ser introduzido na rede de gás atual, substituindo as fontes de energia convencionais.

Atualmente são produzidos na Europa cerca de 14,4 bcm de biogás e 3,5 bcm de biometano, mas a perspetiva é que, até 2050, a União Europeia produza entre 100 a 150 bcm de biometano.

Nesse sentido, a ABA está a desenvolver internamente uma Estratégia Nacional para o Biometano (ENB) de modo a impulsionar a produção, ouso e a incorporação deste gás na matriz energética do país. Através da criação de parcerias entre os setores público e privado e da implementação de medidas de incentivo ao seu uso, será possível consolidar o biometano enquanto solução na missão de elevar a independência energética do país.

O cenário para o futuro é animador no que diz respeito à variedade e ao uso de energias mais verdes, mas existem vários desafios a conquistar para promovermos, cada vez mais, um consumo consciente e sustentável. Existem soluções e ambição para que Portugal encabece esta maratona de sustentabilidade, apoiando-se nos combustíveis de baixo teor de carbono para descarbonizar a indústria e mobilidade.

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