A secretária-geral da Associação de Bioenergia Avançada (ABA), Ana Calhôa, defendeu esta terça-feira que para Portugal “seria muito penoso uma aposta única e exclusiva” na mobilidade elétrica, acreditando que o Governo irá apostar no “‘mix’ energético”.
“Acredito que para nós seria muito penoso uma aposta única e exclusiva na mobilidade elétrica, apesar de ser para onde caminhamos”, observou a secretária-geral da ABA, entidade sem fins lucrativos que representa os operadores na área da bioenergia.
Ana Calhôa, que falava à Lusa a propósito da ausência de Portugal na declaração para deixar de produzir automóveis com motores de combustão e dedicar-se aos veículos elétricos até 2040, o panorama económico português “não permite uma transformação total para a mobilidade elétrica”.
“Acho que a mobilidade elétrica é boa, útil e uma boa aposta, tal como o hidrogénio. Só que temos de perceber que são realidades que vão demorar mais tempo, precisam de amadurecer mais as suas tecnologias, bem como as questões económicas”, salientou.
Lembrando que a média do parque automóvel em Portugal é de cerca de 12,8 anos para os veículos ligeiros e de 15 anos para os veículos pesados, Ana Calhôa afirmou que a migração para os veículos elétricos será uma “maratona longa e dura a vários níveis”, na medida em que pressupõe uma migração de veículo a veículo.
Ao mesmo tempo que decorria a 26.ª conferencia do clima das Nações Unidas (COP26), um grupo de países e empresas anunciou planos para deixar de produzir automóveis com motores de combustão e dedicar-se aos veículos elétricos até 2040 nos principais mercados, mas Portugal ficou de fora.
A declaração foi apoiada por países como Cabo Verde, Canada, Chile, Dinamarca, Índia, Nova Zelândia, Polónia, Suécia, Turquia e Reino Unido. A Ford, General Motors, Mercedes Benz e Volvo, assim como vários estados e cidades nos Estados Unidos e em outros países subscreveram, bem como outras empresas como a energética portuguesa EDP, a farmacêutica AstraZeneca ou a plataforma de transportes Uber.
A responsável disse acreditar que a aposta em Portugal passe pelo “mix energético e não só por uma fonte de energia”, considerando que os biocombustíveis de resíduos e avançados (provenientes de resíduos como óleos alimentares, gorduras animais, borras de café ou molhos) podem “contribuir muito” para as metas desejadas da neutralidade carbónica.
“Os biocombustíveis de resíduos e avançados permitem reduções de emissões de gases de efeito de estufa em mais de 83% quando comparados com os combustíveis fosseis”, observou, salientando não ser preciso “mudar de carro para se ser sustentável”.
“Esta migração para as energias renováveis líquidas, como os biocombustíveis, é algo que ajuda a descarbonizar dezenas de milhares de veículos uma só vez, acelerando bastante este processo com todos os benefícios de o país aproveitar os veículos já em circulação”, frisou.
A responsável defendeu ainda que os biocombustíveis são a “forma mais fácil e eficaz para não deixar ninguém para trás”, uma vez que em causa não estão alterações de veículos, infraestruturas ou postos de abastecimento.
À Lusa, Ana Calhôa reiterou que a aposta nos biocombustíveis não substitui, no entanto, outras fontes renováveis, considerando-os um “complemento”.
“O ‘mix’ energético é o que faz sentido. Não deixar de lado nenhuma tecnologia que seja comprovadamente sustentável, tal como combustível ou solução de fonte renovável. Acredito que o Governo tenha percebido isso e que a nossa realidade não é a mesma de outros países”, considerou.
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente, no sábado, uma declaração final com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.
A alteração foi proposta pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento da COP26 pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.
A proposta acabou por ser aprovada pelo presidente da cimeira, Alok Sharma, que afirmou de voz embargada “lamentar profundamente a forma com este processo decorreu”.
O documento final aprovado, que ficará conhecido como Pacto Climático de Glasgow, preserva a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC (graus celsius) acima dos níveis médios da era pré-industrial.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, comentou o acordo alcançado em Glasgow alertando que apesar de “passos em frente que são bem-vindos, a catástrofe climática continua a bater à porta”.
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